Com gosto de pólvora de vodka - Patrícia Torres
Uma recomendação: não leia este livro se você estiver sozinho em um canto da sala esperando alguém que vai demorar a chegar. Se você acabou de deixar sua mulher no aeroporto para uma viagem de negócios de aproximadamente uma semana, não leia. Se os papéis estão invertidos e é você quem está indo viajar, a recomendação é a mesma. Muitas pessoas leem em ônibus, mas se for este livro, evite. O metrô cheio também não é um bom lugar.
O mérito do livro de Patrícia equivale ao seu perigo. Não se engane: ele vai mexer com você. Fisicamente. São textos escritos à flor da pele, com imagens que ultrapassam o limite do papel. É impossível escapar ileso. O título não mente: tem gosto de pólvora.
“Quero deixar claro de uma vez por todas que faço questão das roupas bagunçadas pelo chão e das mãos deslizando pelo meu corpo tais quais meus pensamentos escorrendo aflitos pelo ralo do banheiro. (...) Quero todos os palavrões adocicados que sua boca suja puder soletrar pausadamente, provocando espasmos transgressores que me levem ao fundo. Do poço. Da minha alma. Ao céu. Ao inferno. Aos seus pés.”
Os textos do livro são independentes, pequenos recortes de relações e sentimentos, uma prosa poética que transpira, sussurra e atiça. Li os textos na sequência que estão no livro, mas fiz um pequeno exercício ao terminar: reli em ordem aleatória, entrelaçando um casal imaginário que se amou, se desentendeu e depois se reconciliou. Completei as lacunas e saí extasiado. Recomendo que façam o mesmo, com um copo de vodka à mão e em boa companhia.
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