Quero ser Reginaldo Pujol Filho - Reginaldo Pujol Filho

As referências são um fantasma para quase todo escritor. Encontrar a própria voz sem espelhar os mestres e evitar transformar sua história em um pastiche são grandes desafios, principalmente para quem está começando. O escritor Marcelino Freire costuma dizer que o autor precisa descobrir o que só ele pode contar em uma história, encontrar uma perspectiva inédita para algo que provavelmente já foi visitado por outros autores. Nada disso parece ser problema em “Quero ser Reginaldo Pujol Filho”, a começar pelo título. Em vez de tentar esconder suas influências, Pujol coloca as cartas na mesa e chama seus "fantasmas" para o jogo.

Cada um dos 10 contos do livro traz o nome e as características mais marcantes de um autor que – acredito – tenha influenciado a literatura de Pujol. De Cervantes a Veríssimo, o autor que quer ser Reginaldo Pujol Filho também é Machado de Assis, Amílcar Bettega e Ítalo Calvino (entre outros). No conto "Quero Ser Luigi Pirandello", por exemplo, um protagonista recebe em casa a visita de dois de seus personagens, uma clara alusão a “Seis personagens à procura de um autor”. Em “Quero Ser Mia Couto”, a intervenção do autor-referência surge quando um repórter brasileiro compra um notebook que pertencia a Mia Couto e passa a impregnar seus textos jornalísticos com o estilo cheio de neologismos do escritor moçambicano.

Transitando entre a paródia e a metalinguagem, os contos do livro são extremamente bem-humorados e não deixam de prestar uma homenagem aos autores que serviram de inspiração a Pujol. O leitor que estiver familiarizado com tais escritores irá se deleitar com o narrador machadiano que se intromete com frequência na história – chegando a dizer que precisará se virar de costas para descrever uma cena assassinato porque não pode ver sangue – ou a trama fragmentada e cheia de hipóteses de Ítalo Calvino. Pujol é um autor que faz literatura pensando em literatura com humor e ironia. Foi assim em o “Azar do personagem”, seu primeiro exemplar de contos e também em seu último lançamento, “Só faltou o título”. “Quero ser Reginaldo Pujol Filho” faz esse mesmo movimento de dissecar a literatura sem torná-la inacessível ou rabugenta.

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