A elegância do ouriço
Não se deve julgar um livro pela capa, certo? E pelo título, vale? Foi o que aconteceu comigo quando trouxe pra casa "A elegância do ouriço". Apostei que um título tão expressivo deveria ter seus méritos. Ele ficou parado em minha estante por quase um ano, quando decidi finalmente iniciar a leitura. Logo nos primeiros capítulos constatei: há tempos deveria ter me aventurado por aquelas páginas. Eis o que "A elegância do ouriço" me disse, praticamente em segredo:
"Aparentemente, de vez em quando os adultos têm tempo de sentar e contemplar o desastre que é a vida deles. Então se lamentam sem compreender e, como moscas que sempre batem na mesma vidraça, se agitam, sofrem, definham, se deprimem e se interrogam sobre a engrenagem que os levou ali aonde não queriam ir. (...) No entanto, é simples entender. O problema é que os filhos acreditam nos discursos dos adultos e, ao se tornar adultos, vingam-se enganando os próprios filhos. A vida tem um sentido que os adultos conhecem, que é a mentira universal em que todo mundo é obrigado a acreditar. Quando na idade adulta, compreende-se que é mentira, é tarde demais. O mistério permanece intacto, mas toda energia disponível foi gasta há tempo em atividades estúpidas. Só resta anestesiar-se, do jeito que der, tentando ocultar o fato de que não se encontra nenhum sentido na própria vida e enganando os próprios filhos para tentar melhor se convencer. Entre as pessoas com quem minha família convive, todas seguiram este mesmo caminho: uma juventude tentando rentabilizar sua inteligência, espremer como um limão o filão dos estudos e garantir uma posição de elite, e depois, uma vida inteira a se indagar com pavor por que essas esperanças desembocaram num vida tão inútil. As pessoas creem perseguir as estrelas e acabam como peixes-vermelhos num aquário. Fico pensando se não seria mais simples ensinar desde o início às crianças que a vida é absurda. Isso privaria a infância de alguns bons momentos, mas faria o adulto ganhar um tempo considerável."
E aí? Mais alguém se sentindo um peixe no aquário, uma mosca batendo sempre na mesma vidraça?
Ao ler este trecho do livro foi inevitável lembrar da música do Pink Floyd. O contexto é outro, mas a mensagem é praticamente a mesma:
"We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl
Year after year
Running over the same old ground
What have we found?
The same old fears"
É um dos meus livros preferidos da vida... Saudade que deu agora, ótima lembrança...
ResponderExcluirÉ um livro espetacular.
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