Trecho do conto "A previsão de José Pasqual" do livro Anelisa Sangrava Flores
"José fez um gesto esquivo e pediu um café com
pão na chapa. Enquanto aguardava, ficou observando o movimento: domésticas
conduziam à escola os herdeiros de mães sem tempo para se dedicarem a tal função;
dentro de moderníssimos carros que, naquele horário, raramente podiam alcançar dois
décimos da velocidade que eram capazes de desenvolver, executivos frustravam-se
com o trânsito congestionado; motoqueiros entrecortavam os carros parados,
tentando, a todo custo, cumprir o horário das encomendas que conduziam; um gari
terminava de varrer uma das calçadas, enquanto do outro lado da rua, um jovem
arremessava uma lata de refrigerante no passeio; em uma das esquinas, uma beata distribuía panfletos sobre a vinda do
Senhor. Um deles foi parar nas mãos de uma jovem estudante de saia curta e
gravidez aparente. Assistiu pacientemente às ocorrências cotidianas,
sentindo-se privilegiado por ser o único a saber que tudo aquilo duraria muito
pouco. Diante do que observava, o fim da humanidade pareceu-lhe uma dádiva
justíssima."
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